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Tarifaço de Trump pode impulsionar investimentos em imóveis no Brasil

Com juros elevados, incorporadoras têm dificuldade para concluir vendas

O mercado imobiliário nacional pode se beneficiar das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos (EUA) sobre produtos brasileiros, que entram em vigor em 1º de agosto. Especialistas avaliam que investidores devem buscar imóveis como proteção patrimonial diante da incerteza econômica.

Por outro lado, as tarifas tendem a pressionar o dólar, a inflação e os custos de materiais importados na construção civil. Com a taxa Selic em 15% ao ano – maior patamar desde julho de 2006 -, a expectativa é de que o Banco Central (BC) mantenha os juros elevados por mais tempo, encarecendo os financiamentos.

“Esse aumento nos custos repercute em toda cadeia imobiliária, gerando desafios para incorporadoras e fornecedores”, afirma Eliza Novaes, presidente da Comissão Estadual de Direito Imobiliário da Ordem dos Advogados do Brasil Seção-MG (OAB/MG).

Em contrapartida, Novaes aposta em grandes aportes em imóveis de alto padrão como investimento seguro. “A tendência muito maior é que as pessoas busquem investimento na proteção patrimonial”, avalia.

Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne com a expectativa de manutenção da Selic. Um resultado diferente pode impactar lançamentos e investimentos em empreendimentos residenciais e comerciais. Portanto, a recomendação é cautela ao setor.

Juros elevados dificultam repasse de imóveis por incorporadoras

Incorporadoras do segmento médio e alto padrão (acima de R$ 500 mil) enfrentam dificuldades crescentes para concluir vendas e repassar clientes ao financiamento bancário após entrega das chaves. A taxa média do crédito imobiliário no Sistema Financeiro da Habitação (SFH) subiu de 10,7% em 2024 para 12,5% em 2025, segundo o Banco Central (BC).

O aumento dos juros eleva as parcelas do financiamento. Um imóvel de R$ 700 mil passou de R$ 4,4 mil para R$ 5,3 mil mensais (financiamento de 70% em 30 anos). “As incorporadoras vão ter que lidar com clientes que não conseguirão financiamento”, afirma Rafael Carlos, da Alvarez & Marsal.

No primeiro trimestre, os lançamentos caíram 22,3% para 4,5 mil unidades e as vendas recuaram 24,5% para 8,1 mil, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Por outro lado, as entregas de obras subiram 15,3%, chegando a 6,1 mil unidades. Os distratos representaram 14,1% das vendas, aumento de 3,4 pontos porcentuais.

Empresas como Plaenge aumentaram o pagamento até a entrega de 30% para 40%-50%. “A régua do banco está subindo, e o repasse está ficando mais difícil”, relata Alexandre Fabian, sócio-diretor da incorporadora.

Analistas do Bank of America alertam que a situação pode forçar descontos para garantir vendas, pressionando margens das empresas.

“Estamos observando um cenário difícil, visto que os níveis de estoque de imóveis no segmento de renda média e alta seguem elevados e devem enfrentar picos de entrega nos próximos meses, em meio a pioras no poder de compra. Isso pode levar a políticas de desconto nos preços, pressionando as margens das empresas”, descrevem Carlos Peyrelongue e Carla Graça, no relatório.

Apesar das dificuldades, o presidente da Abrainc, Luiz França, considera o setor resiliente e descarta a explosão de distratos. “Houve uma grande valorização no preço dos imóveis nos últimos anos. Quem comprou imóvel na planta não tem incentivo a distratar”, afirma.

França lembra que, no auge da crise da década passada, os distratos se aproximavam de 50% das vendas, e hoje, a situação está bem longe disso.

Fonte: Portas